4 Portas CpC

4 Portas CpC

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Literatura

Luciano Bonfim




Maria Bonita, antes de conhecer Virgulino Ferreira, o Lampião, a quem amou até a morte, foi casada com o sapateiro Pedro.
Cléopatra, rainha do Egito e do coração de Marco Antônio, amou o poder sobre todas as coisas e teve, segundo os relatos, momentos de prazer intenso com os seus magnânimos amantes. Diziam-na belíssima.
Oscar Wilde, que por algum tempo viveu devotadamente à sua esposa, com quem teve dois filhos, crianças para quem escreveu as suas histórias de fadas e encantamentos, amou de profundis a um impetuoso jovem inglês.
Calígula, de quem dizem barbaridades sobre a sua vida e os seus amores, indistintamente amou a homens e mulheres, preferindo, segundo consta, aos rapazes fortes e fogosos.
Niestzche alimentou platônicos amores e nunca teve relacionamentos duradouros; nem parcos amores viveu; na juventude, com uma que nem mesmo soube do nome, teve raras relações sexuais, o suficiente para contrair sífilis e terminar como sabemos.
Schopenhauer nunca morreu de amores pela própria mãe, preferindo dedicar-se a um pequeno cão, a música e a filosofia.
Hitler, algumas vezes acusado de sodomia, empestava de prazer as suas roupas íntimas quando discursava para o seu másculo exército.
Narciso amou a si mesmo e entregou-se ao desespero de não ser correspondido.
Tarzan amava Jane mas nunca se desligou da macaca Chita, a quem conheceu bem antes.
Os cães às vezes se amam na praça e sempre depois do gozo ficam, por algum tempo, engatados um ao outro, sendo motivo de risos para muitos e escândalos para tantos.
Alguns amam e sentem prazer com animais não humanos.
Outros sentem prazer com aqueles que não amam.
Tantos exatamente não amam àqueles com quem dividem a mesma cama. Outros vivem com aqueles que realmente amam e têm prazer. Alguns fingem o prazer que não sentem, e somente assim, têm o prazer que deveras fingem.
Muitos se masturbam todos os dias. Outros não se masturbam nunca nem de vez em quando têm relações sexuais e, no meio da noite, muitas vezes, acordam salvos pela polução.
Existiram Satúrnicas e Bacanais. Troca de casais existe, menáge a trois, também
O campo do amor é vasto, vocês sabem! Infinitas são as zonas de prazer!
Alguns, mesmo assim, nem querem saber de amor e sexo. Outros, todavia, não vêem a hora de tudo isso começar. 


Não existe apenas uma forma de amor & prazer
No curso do tratamento psicanalítico há amplas oportunidades para colher impressões sobre a maneira como os neuróticos se comportam em relação ao amor; ao mesmo tempo, podemos nos lembrar de ter observado ou ouvido falar de comportamento semelhante em pessoas de saúde normal ou mesmo naquelas de qualidades excepcionais..[Contribuições à psicologia do Amor]
Sigmund Freud



Por causa do gato lilás


Tarsila, uma gata siamesa, que conviveu conosco por alguns dias, apaixonou-se pelo ‘gato lilás’ de Aldemir Martins – uma reprodução da tela que possuímos em casa.
Investiu tudo nesta paixão, estudou sobre o artista e sua obra, incomodou a todos com o seu canto lastimoso e noturno, gastou as unhas arranhando os telhados alheios.
Não encontrando retorno algum desta paixão, chegou a cometer o suicídio 6 vezes, até decidir-se a pesquisar intensamente sobre arte contemporânea.
Certa noite, após buscar um diálogo intenso com a eternidade, ainda meio grogue e desolada, saiu para a rua e não mais a vimos.
Soubemos, algum tempo depois, que ela fora atropelada e tornou-se uma efêmera intervenção urbana.



Mais uma lasquinha da literatura do poeta Luciano Bonfim. Dessa vez é do livro Dançando com Sapatos que incomodam, edição de 2002. 

Acontecimento

Meio-dia: o tempo. O mês: janeiro, setembro...não recordo.
Creio não haver relevância de precisão para o que me proponho contar. Lembro, isto sim, que o sol ardia desde as primeiras horas da manhã. O guarda, me disseram, regava as flores dos canteiros da praça. Já possuía maioridade, e constavam alguns pêlos em meu rosto e tórax. Ela procurava uma blusa lilás, sapatos pretos - pois combina com tudo, dizia, - e um álbum de fotografias. Não sei se encontrou os três, apenas os sapatos ou nenhum deles, esquivo-me. Estava deitado, quase dormindo. Ela beijou a ponta de meus dedos com a sua boca úmida e frugal (carinhosa e lentamente). Meus olhos, frágeis delatores, naufragaram em íntima sensação.
Poucas mães realizam este acontecimento... - Imagino.

Luciano Bomfim com oCartaz da peça “As Mulheres Cegas” , de sua autoria.


Quem quiser conhecer mais da escrita do Luciano, pode fazer uma visita no seu Blog que é o lucianobonfim.blogspot.com. 

Chico Expedito


LUCIANO BONFIM [Crateús/CE.]. Publicou: Dançando com Sapatos que Incomodam - Contos[2002]; Móbiles – Contos [2007]; Janeiros Sentimentos Poético[1992] e Beber Água é Tomar Banho por Dentro[2006] – Poesia ; escreveu e montou as peças: Auto do Menino Encantado[2002] e As Mulheres Cegas[2000 e 2004]; criador da revista Famigerado – Literatura e Adjacências[2005]; professor da Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA[desde 1996]; aluno do mestrado em Educação Brasileira[FACED-UFC/2006]
e-mail:
 luciano.bonfim@yahoo.com.br







Nenhum comentário:

Postar um comentário